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  • Writer's pictureIsabel Valente

Natal - Prendas ou experiências para os seus filhos?




Aproxima-se a época de natal e, invariavelmente, damos por nós a matutar no que daremos de presente aos nossos filhos, procurando sempre compreender o que aparentemente os torna mais felizes para acalmarmos aquele sentimento que teima em magoar a nossa consciência de pais, por nem sempre tomarmos os nossos filhos como prioridades no nosso quotidiano.


Mais do que culpa, é preciso dar-lhes a certeza que, independentemente do tempo que passamos com eles, os respeitamos, ouvimos e valorizamos, educando com respeito, mas também com firmeza sempre que necessário e, acima de tudo, sem medo de perder o seu amor.


Não somos perfeitos, mas queremos sê-lo para os nossos filhos, sem nos apercebermos que à medida que crescem melhor se apercebem das correrias e do que fica para trás! Dos “pais-uber” de final do dia aos pais ausentes, dos pais atrasados nas infindáveis reuniões sem horários de fim aos pais que teimam em ocupar excessivamente as suas crianças em atividades que os tornarão de alguma forma geniais num futuro ainda mais sombrio e acelerado que o de atualmente!



Queremos o melhor para os nossos filhos, é certo, mas até que ponto é que lhes estamos realmente a dar o que eles precisam?


De que vale enchê-los de prendas, jogos e brinquedos que apenas os farão subtrair-se a uma rotina que se quer familiar enquanto atafulhamos a nossa casa? De que vale hipotecar poupanças para os fazer mais felizes, mas solitários? De que vale sacrificar a nossa saúde, tempo livre e disponibilidade mental para beneficiar de todas as etapas dos nossos filhos, se em troca perdemos o ânimo, o sorriso ou a vontade de estar realmente com eles?


Diz-me a experiência que a alegria de receber uma prenda nova (e cara por sinal!) termina uma semana depois com horas de diversão e faz-de-conta incríveis, mas vazias de afeto. Haverão com certeza exceções que marcarão da melhor forma a relação com aqueles que amamos e que se tornarão seguramente memórias mais doces à medida que crescem connosco!


Contudo, se a nossa maior dificuldade é a falta de tempo e, se por isso, relegamos para segundo plano aqueles que mais amamos, porque não substituir as prendas materiais pelo que realmente lhes faz falta? Por que não oferecer-lhes momentos e experiências partilhadas connosco, onde a nossa atenção seja única e exclusivamente sua, sem interrupções ou imprevistos de última hora?


Mudem-se os hábitos, mudem-se as prioridades! Se queremos ser e fazer os nossos filhos mais felizes, aproveitemos ao máximo o que de melhor eles têm e façamo-los aprenderem com aqueles que mais amam! Viajemos com eles, proporcionemos-lhes experiências novas para que aprendam que o conhecimento não ocupa lugar.


Deixemos que conheçam novas gentes e costumes, que questionem e se entusiasmem com diferentes modos de estar, falar e ouvir, com histórias de antigamente ou dos nossos dias e saibamos aproveitar a sua curiosidade natural para lhes devolver o brilho no olhar de quem descobre uma coisa nova.

Levem-nos a descobrir novos lugares, proporcionem-lhes novas experiências como visitar uma cidade à noite na época natalícia esquecendo a correria das compras e apreciando apenas a conversa, o calor humano e as luzes de natal. Apreciem a sua curiosidade, as suas questões, uma qualquer chuva de estrelas cadentes enquanto lhes explicam um qualquer mistério do universo. Deixem-nos falar, fazer perguntas, conversem muito, olhos nos olhos e, quando não souberem o que dizer… devolvam a questão! A sua imaginação voará e sentir-se-ão mais à vontade para sonharem acordados!




Não deixem, porém, de se preparar, pesquisar e planificar a experiência que lhes irão proporcionar, sem demasiada rigidez ou horários inflexíveis, pois o objetivo é fugir ao stress do dia-a-dia e não prolongá-lo um pouco mais. Aproveite os seus interesses e preste atenção aos desejos que vão expressando todas as noites já ensonados. Costumo dizer que é quando já estão no limbo entre a lucidez tardia e o sono pleno de fantasia, que realmente expressam os seus desejos ou medos mais profundos, qual soro de verdade inevitável depois de um longo dia:


“Sabes mãe… o que realmente gostava de fazer é descobrir como vivia o último rei de Portugal? Seria rico, pobre? Trabalharia ou só se divertia? Acho que devia ser muito fixe ser rei, não?” ou então os sonhos mais ambiciosos dos mais novos: “Giro, giro era conseguirmos construir uma casa tão grande, tão grande de legos que pudéssemos viver nela?”


Pois bem, faça-os sentirem-se especiais e proponha que colaborem na organização desta experiência. Tenha em mente que, longe de ser algo exclusivamente para eles, a experiência deverá ter em conta não apenas os seus gostos, mas também os dos pais ou irmãos. Afinal não vivem sozinhos e a reciprocidade afetiva é essencial, para uns e outros.Em vez de anularmos os nossos gostos, procuremos mostrá-los e integrá-los para que aprendam a respeitar-nos, (sendo nós pais mais ocupados ou não!) e a procurar uma solução ganha-ganha sem medo de perder o que quer que seja!




Não queremos criar crianças que olhem apenas para o seu bem-estar, mas que tenham também em conta o bem-estar dos outros. Assim, longe do materialismo desenfreado e egoísta que caracteriza esta altura do ano e nos entulha a alma e a casa, mostremos às nossas crianças que é na partilha destes momentos entre pais e filhos que nos sentimos verdadeiramente amados.


Aprendamos que a disponibilidade para uma conversa olhos nos olhos, que a valorização da sua forma de pensar poderá por vezes ser o mais precioso dos presentes e que a vivência a 3, 4, 5, 6 e porque não a 8 de uma nova experiência poderá fortalecer aquele sentimento que mais do que um amor abstrato, nos faz sentir verdadeiramente em casa… porque afinal “Home is where the heart is!”


Isabel Valente

Mestre e formadora em Educação,

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