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  • Writer's pictureIsabel Valente

Choro do bebé – angústia, desespero… ou talvez não?

Estamos grávidos, extremamente (diga-se!) e o certo é que, por entre pontapés, contrações e um grande barrigão que não nos deixa dormir, contamos os dias para finalmente podermos conhecer o nosso bebé que, apesar de tão pequeno, nos faz já andar em correrias para prepararmos o nosso ninho para a sua chegada!



Estamos ansiosos por começar uma nova etapa das nossas vidas e trazer para casa o mais recente elemento da família! Vêm as dores, as contrações mais fortes, rebentam as águas e eis que, no meu caso, em menos de uma hora, tínhamos o nosso primogénito no colo! Uma felicidade incrível e uma vontade de chorar que me encheu a alma num misto de alegria e orgulho que me fizeram chorar… que nem um bebé!


Tínhamos conseguido! Éramos uma família e após 2 dias no hospital, voltamos a casa com o maior presente de todos! Calmo e bastante pontual no que diz respeito às horas de ser amamentado, julgamos ter ganho a sorte grande.


Contudo, se nas primeiras noites mal pregávamos o olho para nos assegurarmos que o bebé estava bem, se não tinha bolsado, se estava a respirar e sem frio numa ânsia normal de quem é pai e mãe de primeira viagem; ao fim de alguns dias, e apesar de todo o cansaço e falta de horas de sono, era o nosso bebé que interrompia o silêncio que nos embalava à noite com um choro irritado de quem exige o toque e o carinho daqueles que mais ama.


Em apenas algumas semanas, o sonho tornou-se pesadelo; o amor tornou-se medo e o orgulho em insegurança. E eis que demos por nós a temer as noites, a ligar aos avós em busca de auxílio, ao pediatra para que nos assegurasse que não eram cólicas ou algo pior que fazia o nosso filho chorar inconsolavelmente pela noite fora! Apesar de tudo isto, o nosso bebé crescia bem e, depressa aprendeu a sorrir, (durante o dia, é claro!).



Desgostosos, procurámos soluções, desde as famosas gotinhas cor-de-rosa às massagens, procurando em vão reduzir as horas de sono durante o dia para que conseguisse dormir à noite, com resultados devastadores, para nós e para ele.


Estávamos desesperados, cansados e francamente exaustos!! E eis que numa conversa com amigos de longa data, já no terceiro filho, nos confessamos perdidos e sem saber o que fazer. A pergunta que nos fez parar não se fez esperar – “Como é o choro do vosso bebé durante a noite?”. Entreolhamo-nos meio perdidos – “começa com um soluçar suave que tentamos ignorar, subindo de volume em poucos minutos até não conseguirmos deixar de pegar nele para o acalmar – a ele e a nós! Mas demora imenso tempo a fazê-lo como quem está irritado demais para se deixar dormir!”


“E, não estará mesmo demasiado irritado para o fazer?”


Confesso que tudo me pareceu demasiado vago, mas naquela noite, olhamos (e escutámos) o choro do nosso bebé de maneira diferente e conseguimos perceber diferente tipos de choro. Encorajados por esta nova descoberta, prosseguimos no “estudo” do choro do nosso filho, agora mais curiosos do que irritados.


Passado alguns dias, distinguíamos perfeitamente o choro de irritação do nosso bebé (mais agudo e estridente), do choro de quem deseja sentir-se seguro e quente (mais soluçado e fácil de acalmar com o colo e aconchego), do choro cansado de quem está incomodado ou com fome (mais lento e arrastado que vai subindo de tom e que não se acalma sem um biberão ou mudança de fralda). O certo é que começamos instintivamente a mudar o nosso comportamento, pois compreendíamos agora que o choro do nosso bebé não era uma birra enorme, mas sim a forma que ele tinha à sua disposição de comunicar as suas necessidades e de se fazer ouvido!



Não foi de imediato, mas passado alguns dias, começamos a acalmar-nos e a reagir de forma mais terna e meiga ao choro que nos teimava interromper as noites. E quase sem dar por isso, começamos a reconhecer padrões e a compreender o que o choro do nosso filho nos queria dizer - falando calmamente face ao soluço ou gemido mais baixo; tocando e acariciando o bebé quando se mostrava assustado para logo depois se acalmar; pegando nele ao colo para que se sentisse seguro com o nosso toque e cheiro e, alimentando-o ou trocando-o quando o choro subia de tom sem dar sinais de tréguas!


Aos cinco/seis meses conseguimos dormir a primeira noite completa, sem interrupções, choro ou reclamações. Acordamos simplesmente com o despertador e, em sobressalto, olhamos o berço, onde o nosso bebé, nada dorminhoco, nos brindou com uma pequena gargalhada enquanto nos olhava orgulhoso!


Comovemo-nos… os dois, como se tivéssemos finalmente aprendido que mais do que chorar, o nosso bebé comunicava as suas necessidades e angústias, desejos e exigências, precisando mais de pais calmos que o compreendessem, do que pais irritados que lhe quisessem impor à força limites e obediência, bem como horários de sono mais adequados às nossas necessidades.


Dias mais tarde, enquanto partilhávamos a conquista e as aprendizagens com o choro do nosso filho, ouvimos do mesmo casal amigo uma expressão que nos fez acreditar que estávamos seguramente no caminho certo – “O que seria de um bebé que não se fizesse ouvir? Não seria amamentado quando tivesse fome, não seria aconchegado quando tivesse frio, não seria acarinhado quando estivesse assustado!”


Compreendemos então que o choro de um bebé não é uma birra ou uma batalha pelo poder ou atenção. É sim um pedido (mais ou menos dramático!) de satisfação de uma necessidade afetiva ou biológica de quem é demasiado pequeno para comunicar por palavras.



Aprendamos, pois, a “olhar” e “escutar” verdadeiramente o choro dos nossos bebés, adotando uma atitude de curiosidade e investigação que nos permita corresponder de forma mais precisa às suas necessidades. Saibamos ser ternos, meigos e pacientes; “dividir para conquistar”, aceitando que temos primeiro de nos acalmarmos para só depois conseguirmos transmitir essa harmonia aos nossos filhos.


Isabel Valente

Mãe, professora e mestre em Educação

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