top of page
Search
  • Writer's pictureIsabel Valente

Motivar adolescentes para o estudo - enquanto se reforçam laços afetivos... possível?



O Desafio de Aristóteles

Qualquer um pode zangar-se isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil.

ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco


Se durante o 1.º e 2.º ciclos, as crianças se deliciam na descoberta de um novo mundo, seja pela aprendizagem da leitura, do cálculo, das línguas estrangeiras ou pela experimentação de inúmeros desportos e atividades, certo é que a partir do 3.º ciclo, assistimos a uma mudança na maneira de pensar, sentir e agir daqueles que já não respondem mais por crianças, intitulando-se antes, e não sem ponta de rebeldia no olhar, de adolescentes!


São os novos jovens púberes que se encontram em ebulição, fervilhando de novos pensamentos, expetativas e opiniões que navegam por entre a agitação causada por inúmeras mudanças que vão muito além da biologia humana. Com efeito, passam frequentemente da “idade dos porquês” para a idade da introspecção na qual cogitam sobre a própria forma de pensar, agir, formulando hipóteses, experimentando emoções e recriando-se numa construção, por vezes dolorosa, da sua própria identidade.



Ora, compreendendo-se e aceitando como natural o rebuliço de emoções, anseios e receios que assaltam a mente e os corações dos nossos jovens adolescentes, torna-se necessário e desejável uma mudança de estratégia dos pais no que diz respeito à motivação para o estudo. Com efeito, a inteligência dos nossos adolescentes é, ainda que momentaneamente, essencialmente emocional e menos racional. Daí que seja urgente revermos atitudes e posturas face a esta nova etapa de crescimento para que esta fase, tão assustadora para adolescentes e pais, se constitua também como oportunidade de consolidação de laços afetivos cada vez mais significativos entre uns e outros.


Tendo em mente que qualquer adolescente se sente então mais motivado para estudar se isso o compensar emocionalmente (MACHADO, Júlia, 2015), é preciso que se sinta compreendido, aceite e valorizado enquanto pessoa, pois quando nos sentimos valorizados, trabalhamos melhor e sentimo-nos mais motivados. Isto não implica porém a indefinição ou o relaxamento de regras, pois a objetividade e a coerência das regras e comportamentos trazem segurança e estabilidade aos jovens adolescentes.



Sendo assim, é recomendável criar ou manter espaços de partilha e vinculação entre pais e jovens adolescentes que excedam o mundo da escola. É preciso questionar e ouvir ativamente, dar espaço para que falem e exprimam os novos interesses e receios, mas também para que calem novas emoções, mantendo a disponibilidade apesar da recusa da partilha, pois também isso é respeitá-los. Por outro lado, é necessário partilhar as preocupações dos pais com os jovens adolescentes, pois essas são também formas de amor e de afeto sinceras e legítimas.


Podemos dizer que o ideal será que os pais consigam motivar adolescentes para o estudo “através” do coração, com regras, metas e limites claros e conjuntamente negociados e partilhados. Todavia, nem sempre é fácil escapar do sermão, do castigo ou do prémio material como forma de reforço negativo ou positivo, mas estes terão sempre um alcance reduzido se falarmos de uma verdadeira vontade de estudar!


Desta forma, e porque o caminho da educação de jovens adolescentes é por vezes feito de pequenos avanços e recuos, aceitemos que só uma postura estável, positiva e coerente ao longo do tempo poderá verdadeiramente motivar jovens adolescentes para o estudo. Partilhamos assim algumas sugestões e dicas que poderão ajudar os pais a motivar adolescentes para o estudo “muito mais pelo coração, do que pelo castigo ou prémio”:



1. Seja genuíno no interesse pelo que o seu filho aprende na escola, questione-o sobre as matérias e conteúdos em exploração, assumindo uma postura de curiosidade natural sobre as matérias e sua pertinência para o dia-a-dia e não de “polícia”;


2. Definam em conjunto um espaço para o estudo. Este deverá ser limpo, arejado e com luminosidade natural, sem distrações (telemóvel, computador, etc.) e barulhos;


3. Defina uma agenda semanal com horário de estudo, incluindo tempos para realização de trabalhos de orientação para o estudo, mas deixando espaço para atividades de lazer, avaliando semanal ou mensalmente a sua eficácia;


4. Esteja disponível para auxiliar o seu filho no estudo, mas jamais faça as atividades por ele! Em vez disso, peça-lhe que “pense alto”, que lhe explique o seu raciocínio e o relacione com situações do dia-a-dia… ou seja, devolva-lhe as questões, deixe-o pensar e oriente-o, pois ao fazê-lo está a ensiná-lo a pensar por si próprio, estimulando assim a sua autonomia e sentimento de autoeficácia e, consequentemente, a sua autoestima!


5. Em caso de falha, foque-se na raiz do problema, procurando compreendê-lo para assim impedir que se repita. Evitem porém o “jogo de culpas” e mágoas que interferem com a motivação e autoestima do seu filho e pensem juntos em estratégias e metas realistas a alcançar.


6. Finalmente, não premeie com presentes, mas antes com incentivos e valorização pelo esforço feito, pois é necessário que antes de tudo o seu filho entenda que estudar é sua responsabilidade!


Contudo, é necessário relembrar que a negociação e a definição de espaços ou tempos de estudo não chegam para que a motivação ocorra. É necessário que exista uma proximidade, reflexão e disponibilidade dos pais para acompanharem os seus filhos ao longo deste período, gerindo autonomias e ansiedades do dia-a-dia, flexibilizando e clarificando limites sempre que necessário, sem medo ou receio de cumprirem o seu papel de educadores.


Por último, importa salientar que estas sugestões só farão sentido num contexto de vivência familiar onde o mundo escolar não tem o monopólio das interações, não limita ou espartilha a comunicação ou a partilha de emoções, pois mais do que criar alunos fantásticos, é preciso criar pessoas que vivam e se realizem plenamente na medida das suas interações, familiares e outras. Caso assim não seja, poderá ser difícil gerir ansiedades, expetativas e frustrações de pais e filhos face aos avanços e recuos tão naturais de qualquer processo de ensino e aprendizagem.


Desta forma, reitero o desafio de Aristóteles, saibamos zangar-nos na medida e hora certas e pelos motivos mais pertinentes!


Isabel Valente

11 views0 comments

Recent Posts

See All
bottom of page