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  • Writer's pictureIsabel Valente

As perguntem "grandes" dos mais pequenos!!

Há dias em que os nossos filhos parecem ter as pilhas ligadas e nos confrontam com perguntas e mais perguntas para as quais não temos resposta e, deixem que vos diga, não são apenas os mais pequenos!



Se por um lado os mais pequenos nos assombram com os seus infinitos "porquês" que parecem surgir sempre inesperadamente; por outro lado, temos os mais velhos com perguntas mais profundas que nos surpreendem sem pré-aviso, como se fosse possível estudarmos para estarmos aptos a responder, qual questionário de exame!!


A verdade é que se algumas delas são terrivelmente engraçadas, outras existem que nos deixam a pensar se não deixamos há muito (e erradamente!) de nos questionar sobre as grandes coisas da vida no meio de um quotidiano apressado e em piloto automático.


As perguntas e os infinitos porquês das nossas crianças são ferramentas poderosas de crescimento que as fazem pensar, colocar hipóteses, imaginar e criar mentalmente uma resposta que as satisfaça - nem sempre cientificamente rigorosa, mas estranhamente lógica.



Por exemplo, quando há dias no final de uma consulta de oftamologia questionei o nosso filho mais novo se queria colocar alguma questão, foi supreendida com um silêncio bem curto, seguido de uma pergunta absolutamente desconcertante:



"Tu sabes como é que os nossos olhos não caem da nossa cabeça? Como é que eles ficam lá presos?"





Não me contive, eu e o médico, que nos olhamos de soslaio e lançamos umas gargalhadas. Contudo, a reação não se fez esperar, bem como a vergonha por ter causado tanto riso: "Ó mãe, assim nunca mais faço perguntas!!" em tom de queixa e embaraço. Apercebi-me que se sentia colocado em causa pela pergunta que tinha feito e a nossa reação!


Imediatamente me recompus e insisti (seríssima!) na pergunta ao médico, o que apaziguou a vergonha do filhote que prontamente me ofereceu a mão expectante à procura de conforto. O médico, por sinal também ele pai, compreendeu e, no meio de um elogio pela sua curiosidade, explicou enquanto desmontava um modelo do olho humano, que os olhos se mantêm "presos" por causa dos músculos oculares.


Não contente, retorquiu: "Mas com o quê que os músculos se parecem? E como é que eles esticam? E depois, o que acontece se perderem a força? Funcionam tipo pastilha elástica?"

Enquanto o nosso "pequeno cientista" interrogava o oftamologista que adorou aquela conversa, questionei-me quantas vezes desvalorizamos as suas perguntas, respondendo com um "sei lá" que os deixa envergonhados e completamente à deriva quanto à resposta que tanto procuravam!


Instintivamete, comprometi-me a levar mais a sério todas as questões colocadas pelo mais novo ou o mais velho! E eis que passado 2 dias, fui posta à prova com uma pergunta que me fez embatucar!


- "Mãe, qual é o sentido da vida?"


Claro está que, se eu pensava que me safaria com um breve "sei lá!" estava redondamente enganada, pois ao contrário de qualquer pré-adolescente que se digne de o ser, o nosso filho manteve-se na expetativa de uma resposta que apaziguasse o rebuliço que lhe ia na mente.


Quando finalmente o silêncio se tornou um pouco estranho, ripostei - "Mas por que perguntas isso?", ao que respondeu prontamente: "Porque acho que deve haver uma razão muito forte para eu e tu estarmos aqui, mas não sei qual é!"


Face à ruga na testa e à pergunta insistente parei e respondi-lhe que, assim como não existem pessoas iguais, também não existem respostas iguais. Cada pessoa vai crescendo e descobrindo qual o sentido da sua vida!!


"E tu, já o descobriste?" - perguntou ele na expetativa.


"Sim, para mim, é ser mãe, esposa, professora e ter o privilégio de todos os dias poder fazer a diferença para miúdos ou graúdos!"


Após um breve silêncio retorquiu dizendo: "Então o sentido da vida é procurar o que queremos fazer e que nos faz mesmo felizes?" ao que o pai sabiamente respondeu - "Não basta descobrí-lo e ficar por aí, o objetivo em mente é mesmo fazê-lo acontecer! É na procura de como o fazer acontecer que encontras o teu verdadeiro sentido de vida!"


Falamos de amigos com vocações variadas que o espantaram e, depois de quase 1 hora de conversa, concluiu - "Acho que afinal, ainda vou muito a tempo de descobrir o sentido para a minha vida, mas sei que não tem nada que ver com dançar ou cantar!!"



Visivelmente mais sereno, começou a enumerar tudo o que adorava fazer e a colocar mil e uma hipóteses, mostrando-se ansioso por descobrir o sentido da sua vida.


Não fomos científica ou filosoficamente exatos, mas sentimos que do alto dos seus 10 anos, o nosso filhote despertou para uma nova certeza que o deixou com imensa vontade de crescer, pois dependia dele e das suas vivências a descoberta do seu propósito de vida!!


Confesso que me vieram as lágrimas aos olhos e não pude deixar de exclamar - "Estás tão crescido filhote!!", ao que ele prontamente respondeu - "Ó mãe, deixa-te disso!!"


Isabel Valente,

Mãe, professora e mestre em educação



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